
Publicado no jornal Matéria Prima, de Taubaté, Ano II nº 68
Esta é uma história que provavelmente só terá fim com a morte, no caso a minha. Oxalá não ocorra tão precocemente.
Quando conheci Carlos Borges Schmidt morava eu em Ubatuba. Exercendo de pleno direito minha paixão por história, especialmente a “pequena” história regional. Sou um dos sócios fundadores do Grupo Setorial de História e Geografia da FUNDART (Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba) da qual fui secretário, e presidente, ali militando por alguns anos.
Foi pesquisando sobre a não construída, mas iniciada, estrada de ferro entre Taubaté e Ubatuba que conheci Carlos (me perdoem a intimidade). Ruinas desta estrada ainda persistem nas matas de Ubatuba e Natividade da Serra. Eu as vi: o que resta de alguma construção, cortes nos morros com terraplanagem, vagonetes, trilhos. Procurando literatura, dentre outros, um artigo muito bem escrito e assinado por Carlos Borges Schmidt (CBS), publicado na Revista Paulistânia. Fui atrás.
Passei metade de um dia na biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo onde contei com precioso auxílio do responsável. Achei diversos artigos de CBS constatando, então, algumas de suas características profissionais: a meticulosidade, a curiosidade, a capacidade de observação.
Carlos Borges Schmidt viajou e pesquisou por sua conta vasto território nacional, mas especialmente o estado de São Paulo e, neste, especialmente o Vale do Paraíba e seu Litoral Norte; foi amigo e companheiro de várias personalidades como Felix Guisard, Wladimir de Toledo Pizza, Paulo Camilher Florençano e outros; foi um dos pioneiros em descer, de automóvel, a Serra do Mar, de Taubaté a Ubatuba.
Perseverei na pesquisa e, através de informações – minha rede de informantes é quase tão vasta quanto à da CIA! – fiquei sabendo que o MIS – Museu da Imagem e do Som – em São Paulo, possuia material sobre CBS. Em lá chegando, qual minha surpresa e prazer em saber que tinham, na verdade, um vasto acervo de documentos originais e fotos, doados pela família após seu passamento. Tive ainda a sorte de a diretora de acervo ser também apaixonada por CBS. Fiquei um dia inteiro enfurnado no subsolo, fuçando em tudo: cadernetas de viagem onde ele anotava TUDO, com uma letra pequena, regular e extremamente legível. E fotos, muitas fotos. Belíssimas fotos, mas belíssimas mesmo, tudo em preto e branco, e sobre TUDO. Seus escritos são altamente valiosos como fonte etnográfica, antropológica, arqueológica e histórica. Presta informações e dá dicas para estudos futuros, ainda a serem realizados. Suas fotos idem, além de manifestação de arte superior.
Sua obra merece reedição. Não toda, há algo datado. Merece uma biografia. Suas fotos, além de exposição, merecem um livro com edição caprichada e artística. Seu nome merece ser lembrado e as dicas que deixou para pesquisa futura merecem ser estudadas. Outros desenvolvimentos desta história de amor apresentarei a vocês no futuro. Ou não. Inshala’Allah.